Muito frequentemente os pais transmitem a ideia de que o filho é aceite quando tem êxito, mas não quando falha. Não digo que façam isto de forma propositada, mas porque é muito mais fácil acusarmos e apontarmos os pontos negativos, do que elogiarmos. A aceitação estabelece uma base sólida para o crescimento e a autoconfiança. Depreciar uma criança – ou aceitá-la algumas vezes e outras não – faz com que ela se considere com uma mistura de respeito e desprezo. A criança que não se sente aceite pelos pais torna-se vulnerável à pressão destrutiva dos grupos, pois ela luta pela aceitação por parte de outros. A maneira como a criança é aceite nos primeiros anos determina em grande parte a estima que tem de si mesma e dos outros quando chega à idade adulta. Os pais são uma espécie de espelho em que as crianças se veem, influenciando a sua perceção de si mesmas e do tipo de pessoas que são. Elas absorvem o clima emocional do lar, sentindo desde cedo se está cercado de cuidados e amor ou de egoísmo e tensão.
Por que as crianças sentem falta de aceitação?
- As críticas constantes à criança criam sentimentos de fracasso, rejeição e desajuste.
- Comparar a criança com outra transmite falta de aceitação. Não existem duas crianças iguais, e comparar uma com a outra é uma grande injustiça. Temos que entender que: “cada um de nós é inferior em algumas coisas em relação a outras pessoas. Por outro lado, cada um de nós possui alguns pontos positivos, algumas coisas em que sobressaímos. Devemos concentrar-nos nisso”.
- Esperar que a criança realize os sonhos que os pais não puderam realizar faz com que ela sinta que não é aceite. Muitos pais, sem pensar, desejam que o filho realize as obras que eles não conseguiram realizar. A imposição de tais expetativas sobre a criança faz com que ela não se sinta aceite.
- A superproteção de uma criança no geral contribui para o seu sentimento de não aceitação. Alguns pais são como aquela mãe que disse: “Filho, não quero que entres na água até que tenhas aprendido a nadar”. Ora, como vai aprender? Os pais devem, evidentemente, tentar proteger o seu filho do perigo. No entanto, a superproteção pode trazer um espírito de temor às crianças em vez de fé.
- Esperar demais do filho pode criar sentimentos de não aceitação. Aceitação significa respeitar os sentimentos e a personalidade do filho, embora mostrando-lhe que o comportamento negativo é inaceitável. Aceitação significa que os pais gostam sempre da criança, sem levar em conta os seus atos ou ideias.
Como promover este sentimento de aceitação?
- Reconheça o filho como único. Todas as crianças são diferentes por isso não os podemos tratar da mesma maneira. Às vezes os pais dizem: “trato todos os meus filhos de forma igual”; mas as crianças são diferentes, logo não os podemos tratar de igual maneira. É preciso reconhecer as diferentes habilidades, evitar a comparação entre os filhos e tratar cada filho como único.
- Ajude a criança a descobrir a satisfação das suas realizações. É mais saudável ficarmos ao lado da criança, incentivando-a, protegendo-a, do que a impedir de realizar certas tarefas.
- Deixe que a criança saiba que você a ama, a deseja e realmente a aprecia. Uma criança é um dom de Deus, uma herança do Senhor. Uma das coisas mais devastadoras para uma criança é sentir que o seu nascimento foi um acidente, o resultado de uma gravidez indesejada, um casamento forçado, ou que ela está a impedir a felicidade dos seus pais, que estão juntos por causa dela ou sendo um peso financeiro. Como a criança sabe que é amada e desejada? Quando os pais reservam tempo para estar com ela, para ajudá-la nos seus pequenos projetos e quando se aproveitam de toda a oportunidade para demonstrar-lhe amor.
- Mantenha um relacionamento sincero e genuíno com a criança. Quando somos suficientemente sinceros para confessar as nossas falhas e que não somos perfeitos como pais, aliviamos grande parte da tensão e damos esperança aos nossos filhos. Se os pais admitissem mais facilmente os seus erros e até rissem deles, a atmosfera de muitos lares melhoraria bastante (é necessário capacidade e coragem para os pais pedirem desculpa aos filhos).
- Ouça o que o seu filho diz. Ouvir é realmente uma das melhores maneiras de dizer “aceito-te”. Um dos aspetos mais importantes da comunicação é o olhar. É triste quando a criança fala connosco e não olhamos diretamente nos seus olhos. As crianças sentem-se aceites quando os pais reservam tempo para ouvi-la. O amor, para ela, geralmente é expresso em tempo.
- Trate os seus filhos como uma pessoa de valor. As crianças merecem ser respeitadas como pessoas. Às vezes, os pais têm dificuldade em dizer “por favor”, “obrigada”, e depois querem que os seus filhos o façam. Mas eles vão repetir o que veem e a forma como são tratados. A maneira de ensinar respeito aos filhos, é respeitando-os. Note que se você habitualmente chamar o seu filho de “pestinha”, “rebelde”, “diabinho”, é o que ele vai ser, porque é a forma como você o trata. Se espera que o seu filho lhe proporcione felicidade e ajuda, e é dessa forma que o trata, vai encontrar uma criança que, embora falhe algumas vezes, procurará corresponder às expetativas dos pais.
- Permita que o seu filho cresça e se desenvolva ao seu modo único e próprio. Cada criança é única e devemos conhecê-la, motivá-la e potencializá-la para aquilo que ela está desenhada para ser. Quando os pais não têm ideias concretas do que querem que eles façam e sejam, percebem mais facilmente os interesses e as qualidades singulares de cada um e fazem-nos desenvolver mais depressa. Nós, como pais, devemos ser os primeiros a ver e a impulsionar os nossos filhos no alcance e cumprimento do seu propósito.
Há tanto para apreciar numa criança. A hora de apreciar a aceitar uma criança é durante o dia nas atividades normais dela e não depois de tê-la colocado na cama ou depois que cresceu e foi embora.