É fácil para os adultos negligenciarem as necessidades espirituais e preocupações das crianças. É importante que a criança saiba qual é a sua posição diante de Deus, sendo essencial que conceitos corretos de Deus lhe sejam ensinados desde cedo. Por exemplo, pontos de vista prejudiciais que afetam a vida inteira podem ser aprendidos mediante declarações como: “Deus não gosta de ti quando não te portas bem” ou “Se tu fores sempre um menino bom irás para o céu”. A criança nunca pode ter a certeza da sua condição espiritual se forem usadas declarações condicionais do tipo “se tu…”.
Uma das primeiras orientações para os pais aparece em Deuteronómio 6:6-9:
- A Bíblia ensina que, em primeiro lugar, os próprios pais devem ter comunhão com Deus.
- A Bíblia coloca a responsabilidade pelo treinamento espiritual dos filhos diretamente sobre os pais. Deus colocou sobre os pais a tremenda responsabilidade de ensinar – Salmos 78:1-8.
Note como neste salmo a responsabilidade é especificamente colocada sobre os pais, com os seguintes propósitos:
- Para que os filhos também depositem fé em Deus.
- Para que eles não se esqueçam das obras de Deus ou da obediência aos Seus mandamentos.
- A fim de que não se tornem incontroláveis, teimosos ou rebeldes.
- A Bíblia ensina claramente que a instrução dos pais deve ser constante e contínua, através da palavra e do exemplo, presente em qualquer hora e momento do dia.
Muitos pais pensam que não devem expor as crianças muito cedo às realidades de Deus, para lhes dar liberdade de escolha… a questão é que se lhes escondemos quem é Deus, expomo-los a outro tipo de deuses e filosofias, pois temos que conhecer as realidades que estão à nossa volta; a criança precisa de orientação, esclarecer dúvidas sobre assuntos éticos, morais e espirituais, que o livrarão da confusão a respeito do mundo onde vive.
- A Bíblia diz em Provérbios 22:6 – “Ensina a criança no caminho em que deve andar e, ainda quando for velho, não se desviará dele”. A instrução é dada pelo ensino ou transmissão de conhecimento, mas também muito pelo exemplo. O exemplo dos pais sempre seguirá e influenciará a criança. Quero deixar outra coisa clara: é óbvio que Deus deu o livre-arbítrio a cada pessoa e ele não priva as pessoas do poder de escolha. E isso remete-te também aos nossos filhos que, quando começam a ter consciência disso, podem querer fazer escolhas diferentes às que lhes ensinamos; no entanto, a influência dos pais é grande e nunca devemos desistir de o cumprir.
O ensino deve ser formal e informal: ir à igreja, fazer parte de um grupo de jovens cristãos, servir a Deus na igreja são de grande importância. Mas os momentos informais são também de grande relevância. Quando os pais oram, leem a Bíblia e respondem com amor e compaixão de forma consistente, isso causa uma importante influência nas crianças. Quando os pais separam tempo para discutir valores, ler e contar histórias que ensinam princípios bíblicos, estão a ensinar e a promover a fé familiar.
Dizem que a principal tarefa de desenvolvimento na infância média (entre os 6 e os 12 anos) é o crescimento da consciência. A consciência é desenvolvida por aquilo que a criança vê, ouve e é ensinada. É a idade da imitação. É por isso que a modelagem é tão importante. É também a razão pela qual o ensinamento claro sobre o que é certo e errado é imperativo. Mas ensinar é mais do que palavras; esta fase da infância média refere-se ao período em que sentimentos e emoções são tão significativos que a criança se torna mais consciente da maneira como as coisas são ditas do que propriamente daquilo que foi dito. A criança percebe mais os sentimentos que são expressos do que a instrução dada.
Para terminar esta série, deixo Três parábolas, incluídas por Alta Mae Erb, no seu livro Christian Nurture of Children:
“Tomei uma criança pela mão, a fim de andarmos juntas parte do caminho. Eu deveria levá-la ao Pai. A tarefa amedrontou-me, tão terrível me pareceu a responsabilidade. Falei, então, com a crianças apenas sobre o Pai. Pintei a severidade do Pai, caso ela o desagradasse. Andámos sob as árvores altas e eu disse que o Pai tinha poder para derrubá-la num minuto com os Seus poderosos raios. Andámos ao sol e falei-lhe sobre a grandeza do Pai, que fez o sol ardente, esplendoroso. Ao cair da tarde um dia, encontrámo-nos com o Pai. A criança escondeu-se por trás de mim; tinha medo, não queria olhar para aquela face tão cheia de amor. Ela lembrou-se da minha descrição; não quis colocar a sua mãozinha nas mãos do Pai. Fiquei entre a criança e o Pai. Refleti. Eu tinha sido tão conscienciosa, tão séria.
Tomei uma criança pela mão. Eu deveria levá-la ao Pai. Senti-me esmagada pela multidão de coisas que deveria ensinar-lhe. Não nos demorámos; corremos todo o caminho. Num minuto comparávamos as folhas das árvores e no seguinte examinávamos o ninho de um pássaro. Enquanto a criança me fazia perguntas a respeito, eu a empurrava para caçar uma borboleta. Se por acaso adormecia eu a despertava, a fim de que não perdesse nada. Eu queria que ela visse tudo. Falámos do Pai muitas vezes e rapidamente. Derramei em seus ouvidos todas as histórias que deveria saber, mas em diversas ocasiões fomos interrompidas pelo soprar do vento, do qual devíamos falar; pelo riacho murmurante, que precisávamos acompanhar até sua fonte. E então, ao cair do dia, encontrámos o Pai. A criança olhou-o de relance. O Pai estendeu-lhe a mão, mas ela não se interessou o bastante para tomá-la. Pontos febris queimavam em seu rosto, ela caiu exausta no chão e adormeceu. Eu estava de novo entre a criança e o Pai. Refleti. Eu ensinara-lhe tantas, tantas coisas.”
“Tomei uma criança pela mão para levá-la ao Pai. Meu coração estava cheio de gratidão pelo alegre privilégio. Andámos devagar. Moderei os meus passos pelos dela. Falámos das coisas que a criança ia notando. Algumas vezes era um dos pássaros do Pai: observámos quando construía o seu ninho e vimos os ovos que nele depositava. Conversámos depois sobre os cuidados que ele tinha com os filhotes. Outras vezes apanhávamos as flores do Pai e acariciávamos as pétalas macias, apreciando as suas lindas cores. Com frequência contávamos histórias do Pai. Eu contava-as à criança e ela para mim. Nós contávamos uma para a outra, essas histórias, repetidamente. De tempo em tempo parávamos, encostando-nos nas árvores do Pai e deixando que o ar feito por Ele refrescasse o nosso rosto, sem falar. E então ao fim do dia, encontrámos o Pai. Os olhos da criança brilharam. Ela olhou com amor, confiança e alegria para a face do Pai, colocando a sua mão na mão dele. Naquele momento fui esquecida. E alegrei-me.”
O meu desejo é que toda esta série possa ter sido útil e de bênção. Que todos nós possamos determinar em nosso coração ser e fazer aquilo que Deus determinou na Sua Palavra e que façamos a diferença não só nas nossas vidas como naquelas que vivem e convivem connosco e que, certamente, também farão a diferença nas futuras gerações.